Instituto Pensar - Cidades Criativas versus desigualdade

Cidades Criativas versus desigualdade

Por Domingos Leonelli*

O PSB poderá se apresentar nas eleições municipais de 2020 como portador de uma nova mensagem e representar uma nova esquerda socialista e democrática, capaz de recuperar a confiança do povo na política: a mensagem das Cidades Criativas. Tendo o Socialismo Criativo como objetivo de longo prazo e a Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento.

Nosso partido compreendeu que o atual modelo de desenvolvimento baseado numa indústria que já foi moderna (mas que está ultrapassada) e na exportação de commodities aprofundou as desigualdades no país. Desigualdade que com suas várias faces – econômicas, sociais, raciais regionais e de gênero – é a principal marca da sociedade brasileira.

Mas não podemos, em pleno século XXI, na era da economia do conhecimento, enfrentar a luta contra essa desigualdade com velhas fórmulas. Por isso, o PSB está se propondo, por meio do processo de sua autorreforma, a formular um novo programa baseado nas ideias de uma reforma do Estado, de uma reforma tributária progressiva que reduza impostos do consumo e da produção tributando os ganhos de capital, de uma revolução criativa na educação e de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que tenha como eixo central a Economia Criativa.

E por que a opção pela economia criativa?

Se até a primeira metade do século XX a indústria manufatureira era o carro-chefe da economia no mundo, desde os anos 70 esse quadro vem se modificando e a indústria perdendo seu protagonismo na economia. Hoje, as maiores empresas do mundo não são as que produzem carros, geladeiras e sapatos. São as que produzem informação, comunicação, tecnologia, design, cultura, turismo e entretenimento. Produção essa baseada no talento e na criatividade. A isso se chama a economia do conhecimento ou economia criativa.

Essa nova economia, que se move no mundo conectado pela comunicação digital e pela internet, cria novos empregos e oportunidades mas gera também desigualdade, na medida em que a robotização e os novos serviços tecnológicos também provocam desemprego e concentram renda.

O Socialismo Criativo pretende se constituir numa visão crítica e progressista dessa nova economia, propondo políticas públicas que protejam o trabalho, estimulem o empreendedorismo, imponham limites éticos, garantam a sustentabilidade ambiental e reduzam as desigualdades.

Se ainda não temos uma estratégia nacional baseada na Economia Criativa, precisamos começar a desenvolvê-la pela base da sociedade: os municípios. Transformando cada vez mais as cidades em Cidades Criativas.

Cidade Criativa não é necessariamente aquela em que a economia criativa prevalece, mas como diz a consultora da Unesco Ana Carla Fonseca, "é a cidade em que soluções práticas para problemas ou antecipação de oportunidades, sejam elas inovação tecnológica, sociais ou culturais, estabelecem conexões entre o público e o privado, entre o local e o global entre a economia, cultura e demais setores”.

São as cidades na quais o poder público municipal mobiliza e articula os talentos locais para desenvolver as vocações econômicas e culturais. Que proporciona, por exemplo, aos artesãos espaços e tecnologia para potencializar comercialmente suas atividades. Que favoreça com incentivos a atividades culturais para transforma-las em negócios lucrativos.

O empreendedorismo é uma das mais fortes e inclusivas vertentes da economia criativa. Por isso mesmo, o afroempreendorismo pode e deve ter nas cidades criativas um grande papel na redução da desigualdade e no combate efetivo ao racismo.

Segundo o Instituto Locomotiva já existem 14 milhões de afroempreendedores movimentando mais de 350 bilhões de reais de renda própria no Brasil.

No entanto, embora se constitua numa força econômica o afroempreendedorismo ainda enfrenta graves problemas ligados a financiamento, capacitação e preconceito racial.

Como socialistas e defensores da economia criativa como estratégia de desenvolvimento, cabe-nos o papel de ampliar e consolidar a força criativa da negritude no empreendedorismo. Cada prefeito(a), vice-prefeito(a) ou vereador(a) socialista, de qualquer origem étnica, deve colocar seu mandato como uma trincheira desta bandeira igualitária.

* Membro da Comissão Executiva Nacional do PSB e coordenador do site socialismocriativo.com.br



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